quarta-feira, 1 de julho de 2009

O Sol sobre Segeda - Possivel santuario celtibero


Santuário Celtíbero na Bisbarra
de Calataiud

Estudos combinados de arqueologia e astronomia revelam que uma plataforma de grandes pedras encontrada no jazigo de Segeda (Mara, Saragoça) servia para celebrar cerimónias rituais no solstício de verão faz 2.200 anos

O jazigo de Segeda, entre Mara e Belmonte de Gracián, na comarca de Calataiud, pode arrojar a partir de agora uma luz importantíssima envelope esta feição do nosso passado. A equipa de investigação que trabalha no enclave, combinando disciplinas aparentemente tão afastadas como a arqueologia e a astronomia, acaba de chegar à conclusão de que uma plataforma monumental de pedra encontrada faz em uns anos no jazigo se trata em realidade de um santuário celtibero Um santuário no que se celebrava alguma cerimónia ritual no solstício de verão. ?É o primeiro santuário construído pelos celtiberos que se descobre na Península Ibéria? assinala Francisco Burillo, diretor da equipa de investigação, que apresentou ontem os resultados-, porque o único que se conhecia até agora, o de Peñalba de Villastar, é natural?.

Ficção ou realidade?. Para Gabriel Sopeña, especialista nos celtiberos, a sua religião e ritos funerários, o achádego resulta muito plausível. Os pesquisadores sempre somos cautos, e logicamente há que realizar mais estudos e comprovações. Mas a ninguém lhe pode estranhar que em Segeda se fizesse algum tipo de festa ou cerimónia no solstício de verão. Os celtiberos contavam o tempo por noites, e não por dias, mas isso não significa que não veneraram ao sol, acrescenta Sopeña, que não faz parte da equipa-. Tinham uma festa muito importante, a da colheita, Lugnasadh, consagrada a um deus que se adorava em todo o âmbito céltico, desde Irlanda a Peñalba de Villastar, o deus Lug. Sabemos que para eles os solstícios e equinócios eram muito importantes, e que tinham ritos e celebrações para essas datas.

Por conseguinte, Segeda pode passar à história como o primeiro sítio onde se descobre um santuário construído pelos celtiberos Mas, como se chegou a um achado de tal envergadura?

Tudo começou em 2003, quando a equipa de arqueólogos que trabalha no jazigo de Segeda deu com uns vestígios que em seguida chamaram a sua atenção. Tinha-se solicitado uma mudança de cultivo em um dos campos e, embora se encontrava fora do recinto da cidade, decidiram realizar umas provas para ver que tinha embaixo. Encontraram um basamento de quase quatro metros de largura e pensaram que se tinham topado com os restos de um fortim ou construção defensiva.

Em 2004 realizou-se uma escavação e os resultados começaram a ser intrigantes. Dois muros de grandes dimensões, com uma longitude conservada de 10 e 16,6 metros respetivamente, e só dois filadas de altura; construídos com grandes selares de gesso, alguns a mais de 500 quilos de pesso. O ângulo de união desses muros não era reto, senão de 130 º, algo verdadeiramente incomum; e, ademais, o espaço entre ambos muros estava recheado com uma plataforma contínua de lousas de gesso e caliça. Os muros e enlousados foram nivelados e cobertos, à sua vez, por uma plataforma de tijolos de 32 por 64 centímetros.

Que sentido tinha uma plataforma de 300 metros quadrados de superfície, elevada, monumental, de planta irregular e fora da cidade? Os pesquisadores lançaram-se a procurar paralelos e não encontraram nada igual em toda Europa Ocidental. De modo que concluíram que se tratava de uma construção de caráter social, religioso ou comemorativo, sem mais, e continuaram os trabalhos.

Foi Martín Almagro Gorbea, que estudava o aljube monumental de Bibracte (França) e o seu relacionamento com a paisagem e a astronomia, quem alertou da necessidade de realizar um estudo arqueoastronómico. De modo que a equipa de investigação contactou com Manuel Pérez Gutiérrez, professor de Astronomia, Geodesia e Cartografia da Universidade de Salamanca, que se deslocou no final de abril passado ao jazigo a tomar todo o tipo de fotografias e medições.

Pérez viu que a bissetriz do ângulo de 130 º se alinhava com o cerro da Atalaia, uma meta destacada da paisagem. E procurou mais. Com a ajuda de vários programas informáticos reconstruiu a situação astronómica do céu no ano 200 dantes de Cristo, data aproximada de construção da plataforma, e viu que a bissetriz não só apontava ao cerro da Atalaia, senão que também marcava o solstício de verão, o dia mais longo do ano, que no 200 a. de C. era o 26 de junho.

Visto assim, tudo parecia muito bonito, mas fazia falta a comprovação. De modo que no passado domingo (21 de junho, solstício de verão atual) a equipa de investigação de Segeda foi-se a última hora da tarde ao jazigo. Quando chegámos se me caiu um pouco a alma aos pés ?recorda agora Francisco Burillo-. O sol estava bastante afastado do alinhamento? Mas pouco a pouco foi acercando-se até que, às 21,20 o sol se colocou em cima da cimeira do cerro da Atalaia e, em quatro ou cinco minutos, desapareceu. “Foi algo impressionante, um momento mágico”


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