quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Escuto logo Falo


Martínez Mendizabal: Os hominídeos de faz 500.000 anos já podiam falar

Diario de Ferrol
26/10/2011

Dez anos de árduo trabalho na Sima dos Ossos, um dos “extraordinários” jazigos da Serra de Atapuerca, permitiu à equipa de investigação de Ignacio Martínez Mendizabal contribuir novas evidências sobre a origem da linguagem. “O que podemos dizer é que faz já 500.000 anos tínhamos capacidades anatómicas para falar como o fazemos nós”, afirma.

 Esta é a principal conclusão de uma via de investigação aberta faz já uma década baixo o esceticismo de grande parte da comunidade científica. “Agora está mais convencida, mas quando começamos a publicar estes resultados, estávamos em solidão. Éramos praticamente os únicos que pensávamos com esta evidência que a linguagem é uma adaptação antiga, isto é, que os hominídeos de faz 500.000 anos, inclusive mais antigos, já podiam falar, porque o que se pensava até faz relativamente muito pouco é que só os humanos modernos pudemos falar”, explica.

O professor titular de Paleontologia da Universidade de Alcalá e e coordenador da Área de Evolução humana do Centro UCM-ISCIII de Evolução e Comportamento Humanos, centrado na sua maior parte no projeto de Atapuerca e Premeio Príncipe das Astúrias em 1997, visitou ontem a cidade ferrolana para dar uma conferência na Faculdade de Humanidades de Ferrol.
Ali falou sobre uma investigação “muito original” e inovadora, e possível obrigado, em verdadeiro modo, ao extraordinário material fóssil humano achado no jazigo de 500.000 anos de antiguidade. Inovadora e que “é vanguarda no mundo da investigação” pelo seu objetivo de partida: "enfrentar à origem da linguagem mas não tentando, como até agora, estabelecer como era o órgão que produz a linguagem, porque pensávamos que aí não chegaríamos bem longe, senão tentar estabelecer como é o órgão que o recebe", comentou em uma entrevista concedida a este jornal.

“O ouvido humano está especializado na audição dos sons da linguagem, de maneira que como se pode reconstruir com muita precisão os fósseis achados permitem uma boa aproximação, foi o que fizemos”, comentou. E aí entra o papel básico das novas tecnologias. Assim, o grupo, com a intervenção por suposto de engenheiros em Telecomunicações, desenvolveu uma tecnologia “absolutamente inovadora” através da que se pode realizar um audiograma praticamente como o que se lhe faz à gente quando se saca o carne de conduzir, ilustrou o paleontólogo. As modernas técnicas radiográficas bem como a reconstrução tridimensional por computador facilitaram uma investigação “muito inovadora tanto pelo tecnológico como pelos resultados”, reiterou.

“Forma de vida”
Martínez Mendizábal fala com entusiasmo não só do seu projeto, senão também da sua profissão. “Para mim a Paleontologia é a vida. Como dizia um cientista famoso, não é uma atividade, é uma forma de vida”. Por isso quiçá se lhe apaga um pouco a voz quando fala da situação atual na que muitos bolseiros e doutorandos iniciam os seus passos no âmbito científico: “Aos bolseiros estamos a pedir-lhes uns níveis de especialização muito grandes, e com um salário muito baixo”, diz. Quanto ao panorama atual da Paleontologia, assegura que tanto na área de estudo dos mamíferos como no dos dinossauros e no da evolução humana, Espanha está agora mesmo à vanguarda.

Um feito com que conquanto a nível social “sim está reconhecido”, não o está tanto desde o ponto de vista das autoridades. “Tenho a sensação de que às vezes não existe a consciência de que isto é património; quando se faz algo em um jazigo financiado por uma instituição pública é pôr o património em valor e às vezes dá a sensação de que te estão a fazer um favor, e nas escavações não cobramos”, pontualiza. Ignacio Martínez recordou que em torno dos jazigos de Atapuerca se criou uma escola que a cada vez vai a mais e que ?é a vanguarda na Europa em número de publicações científicas.


Sem comentários:

Enviar um comentário