sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Entre Tara e o Asperg - Re-pensando Hochdorf




Acabamos de ler um curto mas fascinante artigo do arqueólogo Stéphane Verger, no este pesquisador faz um ensaio de síntese e reconstrução da sociedade da primeira idade do Ferro através dos objectos contidos num jazigo tão conhecido e tantas vezes citado, como é o da tumba principesca de Hochdorf.



O artigo de Verger leva-nos além da descrição para planejar um inovador marco interpretativo no que se une uma impecável análise da cultura material, junto com o uso sem prejuízos das fontes textuais, neste caso procedentes da epica irlandesa alto-medieval, que lhe permite exumar sucessivamente as evidências do ritual nas coisas e logo a través delas as categorias sociais subjacentes da organização política de inícios do Ferro na Centro-Europa.

distribuição do porco no Midchúarta de Tara, segundo Sayer

Partindo dum artigo de William Sayer, no que se estudava a organização dos banquetes celebrados nas célebres Midchúarta (Salão da bebida) irlandeses e a participação distintiva que neles se lhe dava a cada uma das classes sociais da sociedade gaélica, Verger estabelece uma interessante comparação na que o caso irlandês serve como modelo heurístico, sem cair na simplificação de presupor uma identidade total entre ambos casos.



O autor parte da ideia de que o reparto das distintas partes do animal segundo o posição social e o status puído ser uma ideia também presente no contexto da tumba de Hochdoff, e rastreia os elementos que podam indicar essas participações diacríticas (diferenciais) entre os membros dum banquete, através dos serviços de mesa presentes na tumba. Elo lhe permite observar em um elemento como a decoração as diferentes classes de sujeitos presente, ou mais bem, elididos através dos objectos.




Se podem distinguir assim na vaijela  metalica da tumba nove personagens, possivelmente as de mais alto status, cujos pratos ficam na tumba junto ao seu "principe", e que a sua vez são divididos em 3 categorias distintas, formadas respectivamente por 3 personagens com pratos muito decorados, com motivos geométricos, e outros 5 com uma mais simples decoração de pontos, mais um nono sem decoração que considera pertencente a um indivíduo intermédio na escala social do banquete entre estes dois grupos da elite.


Elo segundo o autor mostra: "que o serviço de carne Hochdorf assim como a descrição do salão real de Tara, revelam um sistema muito sofisticado de classificação dos participantes de acordo com seu status, a sua posição e suas prerrogativas rituais". Pela contra em quanto a bebida, observa o autor uma duplicidade de patrões de consumo entre os serviços de mesa e objectos debicados ao reparto da carne e por outro os utensílios participes no consumo e distribuição da bebida alcoólica.



Mentres que o primeiro mostraria as diferenças dentro da sociedade, e, mais concretamente, as distintas categorias dentro da elite, a bebida ocuparia um papel de agregação simbólica a um nível tribal. Assim no aspecto dos nove chifres observamos em 8 deles uma igualdade, que só é rota pelo grande corno que faz o número 9 e que mostra uma decoração e uma capacidade que o distingue claramente dos outros.



Precisamente a quantidade de bebida que permitia conter este chifre permite a Verger identificar este corno como de sentido colectivo e implicado possivelmente em rituais, como o juramento, no que participariam vários comensais, mais também com a figura especialmente destacada do monarca como representante da comunidade e organizador do banquete.



A partir desta ideia Verger faz uma digressão sobre a identidade nas línguas célticas entre o vocabulário da bebida e o do poder politico, estudado por Lambert, que lhe serve de novo recorrendo às fontes textuais para propor a identificação de algumas pequenas figurinhas femininas realizadas em bronze presentes em Hochdorf, como representações de deusas identificáveis com uma concepção da soberania -assim como da bebida- como a que se pode topar nos mitos irlandeses



Em este sentido a tumba de Hochdorf se nos amostra na re-leitura de Stéphane Verger como uma radiografia política da Idade do Ferro centro-europeia, na que a se nos apressenta um individuo que sem dúvida deveu ocupar um papel essencial na comunidade -e difícil não pensar em alguma forma de monarquia- e cuja especial relevância se nos mostra  como congelada em uma foto fixa através de um momento social tão importante e significativo como é o do banquete.



Neste sentido este artigo constitui uma interessante contribuição a uma autentica arqueologia política e institucional da proto-história céltica europeia.


Verger, S.,"Partager la viande, distribuer l’hydromel.Consommation collective et pratique du pouvoir dans la tombe de Hochdorf" Krausz,S. et alii(eds.) L'Âge du fer en Europe. Mélanges offerts à Olivier Buchsenschutz. Ausonius, Bordeaux, 2013  pp. 495-504   [disponivel aqui]


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